Diz a lenda – #24

Em pequenina, o João e o Pé de Feijão não era, definitivamente, a minha história preferida. Tinha a mania de que era uma criança racional e sempre me fez confusão aquela história de o João plantar feijões e aparecer um pé de feijão que ia até às nuvens. Contos de fadas, só se pode ir até certo ponto nas teorias de enganar crianças.

“Diz a lenda que trocou suas certezas por alguns sonhos mágicos”. Há dois anos que tenho uma frase anotada num post-it da minha secretária, de um artigo que li do João Almeida Moreira, que trocou Portugal pelo Brasil e pelo meio foi pai de gémeos, assim tudo muito aleatório. O post-it mantém-se colado, quase como por milagre, tendo em conta a qualidade dos post-its, e continua a fazer sentido. Diz “troquei, profissionalmente e não só, o certo pelo incerto e percebi que é mais provável a felicidade vir com o segundo do que com o primeiro.”

De vez em quando, racionalizo demasiado. Faço tabelas de prós e contras na minha cabeça em fracções de segundo. Pondero, meço e tantos outros verbos que poderiam ser utilizados. E, por vezes, isso deixa-me demasiado ansiosa. Mas fui aprendendo a lidar com isso, com o passar do tempo. E a frase ajuda. A verdade é que já perdi a conta às vezes em que já a li; mas ajuda-me a relativizar, a pensar “porra, estou a pensar demasiado”.

Aprendi que, às vezes, não há mal nenhum em ser um bocadinho João. Também aprendi que tenho de dar uma oportunidade ao Cícero.

P.S.: Isto anda parado, mas não vou prometer que irei fazer um post todos os dias porque sou realista. Ainda assim, continuo a cumprir o desafio e oiço uma música nova todos os dias. Tanto que a lista do Spotify já ultrapassou as 17 horas.

Novo

No início do ano, uma amiga falou-me sobre uma coisa que tinha visto na internet. A ideia era anotar todos os momentos bonitos que fossem acontecendo  em pequenos papéis, que depois eram colocados dentro de um recipiente. Pelas imagens, o mais giro era mesmo um pote de vidro, transparente, para que fosse possível ver o progresso da coisa. Quando se chega ao final do ano, as pessoas têm tendência a não se lembrar das coisas boas que acontecem todos os dias e focam-se nos pontos mais negativos. No último dia do ano, abre-se o pequeno pote da felicidade. Comecei em janeiro, mas só em outubro é que arranjei o pote. Durante uns meses, estiveram guardados dentro de uma gaveta. Não fiz batota, confesso, mas desleixei-me um pouco durante o verão. Hoje, último dia de 2014, terminei a tarefa.DSC_7819Logo nos primeiros papéis, percebi que devia ter levado esta ideia mais a sério. Relembrei momentos muito bonitos, palavras cheias de carinho que ouvi de pessoas importantes e episódios que marcaram este ano. Foi bom, foi um ano de conquistas e de mudanças. Agora, que venha o próximo, sem quaisquer tipos de resoluções – não acredito muito nisso – mas com muitas, muitas ideias, para variar.

À esquerda, fica o resumo de 2014. À direita, o mesmo pote, preparado para 2015. Venha ele.

DSC_7820E, sim, sei que isto tem andado parado, e que este post não tem nada a ver com o tema.

É uma questão de perspectiva – #22

“Rushin’ as a kid just to be grown up” faz muito sentido. Quando somos pequenos, acho que olhamos para tudo com o ar mais admirado do mundo. “Wow, a sério, a tua irmã tem 15 anos?!” e outras exclamações do género são o pão nosso de cada dia para as crianças. Lembro-me de andar no 5.º ano e achar que os putos do 9.º eram os maiores. Eram super crescidos, já saiam à noite e tudo.

Depois cheguei ao 9.º ano e percebi que não se era assim tão crescido, o pessoal do 12.º é que era. “Wow, viagem de finalistas e tirar a carta. Aos 18 é que se é um adulto.” Pois, mentira. Das grandes, na verdade. Continuei a sentir-me uma miúda quando fiz 18 anos. Tudo bem, podia votar, ir presa e tirar a carta de condução, mas continuava a não me ver como uma pessoa adulta. Principalmente porque cheguei à faculdade e percebi que o pessoal do 3.º ano da licenciatura é que era crescido. Ou aparentavam, pelo menos. Óbvio que também eu cheguei ao 3.º ano e percebi que era tudo balelas.

Já passou um ano, terminei um curso e continuo a não me sentir como uma pessoa adulta. Continuo a rir-me quando alguém cai, continuo a não gostar de conversas sérias e ainda não sei preencher o IRS. Porra, eu nem sei o que responder quando me tratam por ‘senhora’. Mas começa a acontecer com cada vez mais frequência e tenho a certeza absoluta de que, em 95% dos casos, faço a cara de maior estranheza no mundo. Sei lá, como se tivesse visto um porco a andar de triciclo azul às bolinhas roxas.

Só para concluir que esta história da idade é toda muito relativa. E que prefiro muito mais que me tratem por ‘tu’ do que por ‘você’. Nem sei como é que aquelas crianças que são tratadas por ‘você’ desde o berço aguentam. Se calhar, pensando nisso, é tudo treino para o futuro e eu é que não sabia.

Funk – #21

Sempre achei que Mark Ronson era mais do que “aquele produtor que fez a Valerie com a Amy Winehouse”. Era também aquele que tinha dado uma roupagem nova a músicas dos Smiths, que tinha feito uma versão extremamente boa de um tema de Kaiser Chiefs…

É também aquela pessoa que tem o poder de fazer com que aquele cantor que se achava “meh…” pareça muito mais interessante. Já tinha lido coisas sobre Bruno Mars ter ali um “cheirinho” a James Brown, mas achava que era mito, exagero, até.

Mas, pronto, sou obrigada a morder a língua. Esta Uptown Funk tem mesmo aquela sonoridade de funk, toda uma vibe James Brown, a festa, a animação. Ok, também tem a forte probabilidade de ser um dos hits dos próximos meses. Daqueles estilo Get Lucky, dos Daft Punk: definitivamente não era a melhor faixa do álbum, mas era aquela que se ouviu tantas vezes, que entrou directamente para a lista das mais odiadas. Lista essa onde figuram todas aquelas músicas de que se gostava, mas que foram utilizadas como despertador e agora produzem aquela sensação de estranheza. Lições para a vida…

Surpresa – #20

E artistas que lançam álbuns sem avisar? Todo um nível de apreço, é sempre a piada da surpresa. Não há nada pior do que estar à espera de um álbum, criar expectativas de quão bom pode ser e depois perceber que afinal… até é um bocado chato.

Confesso que ainda não ouvi o novo álbum de Azelia Banks na totalidade. Mas, se é para ser sincera, há uma coisa que já é fantástica: o título. Broke With Expensive Taste – quase que podia ser a descrição perfeita da minha vida. Quase.

Muita gente não gosta, mas a verdade é que a miúda sabe o que é que anda a fazer desde a 212. 

Mas… – #19

… eu nem gostava de Lorde. Juro que tentei ouvir o Pure Heroine todo, juro. O problema é que não houve assim nada que achasse extremamente apelativo, para além da Royals e da Team. Nem tão pouco percebia o hype. 

Até que comecei a acompanhar notícias de que a curadoria da banda sonora do novo filme de Hunger Games ia ficar a cargo da miúda. E, bem, quem escolhe Chemical Brothers, Chvrches e Major Lazer só pode merecer apreço.

“Casa” – #16

Demoro tempo a dizer às pessoas o quanto gosto delas. Odeio dar parte fraca, tenho mecanismos estúpidos de defesa. Não gosto de dar o braço a torcer. Já desconfiava, mas hoje tive perfeita noção do quanto tenho dificuldades em demonstrar, principalmente por palavras, aquilo que para aqui vai.

Chorei muito, hoje. O projecto mais marcante da minha vida, onde mais aprendi e onde descobri que era muito mais do que aquilo que eu própria tinha consciência, comemorou outro ano de vida. Percebi que, por mais anos que passem e que por mais que tente expressar a importância e o quanto me marcou, nunca irei conseguir. Não há palavras que cheguem. Por mais que me perguntem o que é que fiz e o que é que aprendi, nunca vou conseguir ser 100% fiel à realidade. O tempo passou e há lições que, por incrível que pareça, não consigo esquecer. Ainda bem.

Hoje, dei início a outra etapa, noutro projecto. O entusiasmo e a alegria pelo desafio estão cá, assim como o receio, que só existe quando há respeito pelas coisas e pelo trabalho de quem veio antes de nós. Mas, na verdade, aquilo que mais me emocionou foi perceber que é preciso falar sobre aquilo que foi uma “casa”, para explicar que não há tarefas impossíveis. Para explicar que é normal ter medo, mas que não é isso que nos deve afastar do desafio. Para explicar que é possível conciliar várias actividades ao mesmo tempo, basta querer.

Não sei o dia de amanhã, mas sei que há sentimentos que dificilmente vão mudar. Mesmo que sejam difíceis de trocar por miúdos. Gostava de ser como o Ben Howard, que deita tudo cá para fora e ainda dá um invólucro bonito à coisa. Não é para quem quer, é para quem pode.

Nunca fui boa com títulos – #15

Quero muito ver um concerto desta miúda, mesmo que não consiga dizer o nome dela da forma mais correcta. E, sim, já fui ao Youtube tentar aprender – nada feito.

Já conhecia umas quantas coisas dela e, bem, dizer que gosto é um eufemismo. A música “Walk This Way” é um dos meus toques de telemóvel. Confesso, sou daquelas pessoas que, em 50% dos casos, não atende o telemóvel à primeira porque está a curtir o som. É vergonhoso, mas é verdade.

Fiz uma pesquisa rápida e descobri que isto tinha sido banda sonora de um anúncio de carros. Não esta versão, mas um remix de MS MR (que também é bom, por acaso). Claro que o verso “Oh, what a world I was born into” já não me sai da cabeça.

Bucket List – #14

Gosto de uma agenda cheia. Gosto de ter planos e mais planos. Gosto de ter coisas para fazer, ter de anotar dezenas de tarefas só para não me esquecer de as fazer. Gosto daquela pressão, dos prazos e da adrenalina de saber que há um limite de tempo a cumprir.

Anoto muita coisa. Tenho dezenas de blocos, cadernos e caderninhos. Perco-me com tretas de papelaria. Ando sempre com uma caneta e um caderno na mala. Escrevo coisas aleatórias, de vez em quando arranco folhas quando é preciso, outras vezes gosto só de riscar as margens, quando estou aborrecida. Sinto-me sempre uma criança quando escrevo a primeira palavra num bloco novo, faço sempre a letra mais bonita que consigo. Devagar, sem ser a despachar, só para variar.

Anoto mesmo muita coisa, mas gosto especialmente de anotar as coisas que me fazem feliz. Guardo todas essas notinhas num pote, para no final do ano perceber que, apesar de passar a vida a reclamar, não tenho grandes razões de queixa.

Vou continuar a gostar de fazer notinhas. De tudo e de nada. Mas apercebi-me de que há uma coisa que nunca anotei, pelo menos por inteiro: a bucket list. Sei de memória grande parte das coisas que quero fazer, coisas que estão nos planos. Sei que quero visitar vários pontos do mundo e ir, pelo menos uma vez, a festivais de música em Inglaterra e nos Estados Unidos.

Estipulei uma data limite para ter a lista feita: duas semanas, como o título desta música. Já agora: como é que é possível o álbum de FKA Twigs ser tão bom? Wow, apenas.

É suposto? – #13

É mesmo suposto sermos bombardeados com milhões de notícias e imagens de comparação da aparência nova da Renée Zellweger? A sério, vá lá, é?

Sei que toda a gente está habituada a ver a senhora bochechuda e com mais carninha no Diário de Bridget Jones. Também faço parte desse grupo, obviamente, que atire a primeira pedra quem nunca viu os filmes nos domingos à tarde. Ou a seguir a desgostos amorosos, que seja.

Mas em que tipo de mundo é que é normal toda a gente parar para comentar a cara nova da senhora? Quer dizer, não é como se fosse a primeira pessoa a fazer plásticas no mundo. Se for preciso, encontro já milhões de links com resultados de plásticas, inclusive daqueles menos simpáticos.

É isto que vai acontecer todas as semanas? Quer dizer, numa semana, pára tudo porque alguém pede a uma actriz para controlar os hidratos de carbono, na outra, milhões partilham as fotos de ‘antes’ e ‘depois’ da Zellweger. E acalmar? A senhora já veio dizer que está feliz da vida com o resultado, não será essa a parte mais importante?

E o título desta música adequa-se tanto a isto. Há que gostar mais e preocuparmo-nos menos. Principalmente com aquilo que diz respeito à vida dos outros. Mas isto sou só eu que digo, porque gosto de mandar um bitaite de vez em quando.

De boas intenções… – #12

… estão as segundas-feiras cheias. Tecnicamente, já nem é segunda-feira, mas o sentimento está todo cá.

Simian Mobile Disco é só demasiado perfeito para animar o dia mais irritante da semana. Com Beth Ditto, então, ainda melhor. Rainha dos Gossip, lembrei-me agora de que tenho saudades de Gossip.

Esta é de 2009 e é tão boa. Tão, mas tão boa. Fica já anotado na agenda que é preciso explorar mais da discografia de Simian Mobile Disco. Com ou sem Beth poderosa.

Rapidez – #10

Da série como encontrar uma música nova só para cumprir o desafio diário, chega o impressionante record de descobrir uma música em dois minutos. Ok, se calhar não é assim tão impressionante, é provável que eu tenha baixos padrões.

O que é que me convenceu? É suave, ao mesmo tempo que tem um ritmo envolvente e peculiar. E um título que não se sabe pronunciar bem, mas é tudo uma questão de pesquisa. Avé, Google.

À Noite – #9

Sempre ouvi dizer que cada pessoa tinha períodos do dia preferidos: há quem consiga estudar melhor de manhã, outros à noite e por aí em diante. Costumava dizer que as coisas tinham de acontecer quando eram mesmo precisas. Chama-se deadline, se existe, tem de se cumprir e é um bocado indiferente se corresponde ao período ideal da pessoa.

Mas, nos últimos tempos, tenho vindo a contrariar a minha própria teoria – ironias da vida. Dá mais jeito escrever à noite, parece que as coisas surgem mais facilmente. Se calhar é porque tudo tem mais piada à noite. Vídeos parvos no Youtube? Check, têm muito mais piada quando já não há nada a acontecer e toda a gente decidiu que era mais produtivo dormir. Confissões de quem chora a rir às duas da manhã à pala de tesourinhos deprimentes e remisturas baseadas em auto-tone. 

E assim se chega à música nova de hoje. Um vídeo que tem pessoas com máscaras da família real britânica a fazer assaltos com recurso a varas saltitonas – pode ser? – merece todo e qualquer apreço. Ah, melhora, quando a polícia os segue de segway. Classe e modernidade, portanto.

Toda a gente andou o verão inteiro a ouvir Duke Dumont, com a I Got U. Até à exaustão, diga-se bem e depressa. Claro que esta música não é a última bolacha do pacote, mas tem a sua piada. E o pormenor de haver um “continua” no vídeo? Cheira-me a esperteza, é esperar para ver se esta Won’t Look Back repete o sucesso do hit anterior.

Vergonha – #8

Devia ter vergonha. No ano passado, conheci Bombay Bicycle Club. Fiz aquilo que me é familiar: ouvi umas quantas músicas, escolhi aquelas que mais me agradaram, adicionei-as às minhas playlists favoritas. E, pasme-se, ouvi-as até à exaustão. O problema é quando este hábito tolda a visão de outras faixas no álbum So Long, See You Tomorrow que também mereciam atenção.

E esta é uma delas. Há muito mais para além da Always Like This, parece que deixei Bombay na pausa durante um ano. Daí o “eu devia ter vergonha na cara”. É que saber que já podia ter esta Carry Me na minha vida há mais tempo e que não o fiz, dá pena. Aliás, dá pena não ter conhecimento deste vídeo tão bonito há mais tempo.

Sou uma croma por bons videoclips. Quer dizer, não precisam de ser totalmente bons, há sempre espaço no coração para aquela categoria “tão mau que se torna bom”. Um exemplo? Aquelas músicas que se ouvem quando se vai sair com os amigos à sexta-feira – também conhecidas como azeite, guilty pleasures, pimbalhada e derivados – que têm sempre videoclips daqueles mesmo bons. Mas há aqueles vídeos que são muito, muito bons. Acontece centenas de vezes lembrar-me mentalmente da sequência do vídeo, mas nem tanto da música. O que também tem consequências más: ver um vídeo de Marilyn Manson quando ainda nem se tem idade para andar na primária é capaz de não ser uma boa experiência – nota pessoal.

Bem, Carry Me. Boa animação a acompanhar boa música, é simples e é bonito.

P.S. Ainda não foi hoje que vi Crystal Fighters ao vivo. Mais uma vez: devia ter vergonha.

Plot Twist – #7

Sou fã de uma reviravolta. Como quando se está a ver um filme e acontece alguma coisa que arrepia, faz pensar “wow, mas de onde é que isto saiu?!” e que deixa mesmo, mesmo à beirinha da cadeira. Aquele misto de surpresa, com algum fascínio à mistura, por não se ter conseguido prever aquilo que ia acontecer.

Ok, este vídeo pode não causar assim tanta emoção quanto isso, mas tem um plot twist. Pequenino, mas tem.

Também tem a já explorada ideia de “amor e uma cabana”, mas isso já são outros quinhentos.

Só para contrariar – #6

Existem aquelas pessoas que gostam de ouvir música mais calma, para descontrair, nos dias de chuva – também conhecidos por simulacros do fim do mundo em cuecas, mais recentemente. Como até há pouco tempo adolescente que fui, gosto de honrar aquele estereótipo que diz que a adolescência é tempo de rebeldia, em que os mais jovens só gostam de contrariar. Trocado por miúdos: gosto de ouvir música com energia, ritmada e agitada nos dias de chuva. Só mesmo para contrariar, como se pode perceber.

Faço o mesmo às segundas-feiras, quando o calendário me dá o direito de praguejar por ser o início da semana. Sei lá, também me dá o suposto direito de partilhar imagens de cães chateados no mural do Facebook, só para ilustrar o quanto estou mesmo chateada por ser segunda. Mas, só para contrariar, – novamente – opto por não o fazer, o que transforma a minha playlist das segundas numa oscilação entre aula de aeróbica e afins.

Assumo, gosto de ser do contra, de vez em quando. E esta Supernatural ajuda e muito a contrariar a chuva, com um instrumental com sintetizadores, que faz mexer o mais comum dos mortais, nem que seja um abanar de pezinho. A verdade é que este novo tema deixa muita gente curiosa para saber o que aí vem. Por agora, a dupla britânica está em estúdio, a trabalhar no próximo álbum. Mas se Body Music, o álbum anterior já era bom, as expectativas ficam altas para o senhor que se segue. Ou álbum. É uma questão de esperar para ver, enquanto se faz um replay infinito nesta Supernatural. 

O lado positivo – #5

i, em minúscula, com mensagem positiva. Kendrick Lamar gosta de si próprio, mas ainda não chegou ao nível Kanye West de amor próprio. Brincadeirinha, também falta uma Kardashian no braço.

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É refrescante ouvir um rapper que não fale só sobre rabos, mulheres ou de quantos inimigos tem. Ainda por cima, é o single de apresentação do novo álbum The Art Of Peer Pressure. Só mesmo para confirmar que o título do álbum anterior é verdade e que Lamar é mesmo um good kid. Venham mais assim, com um bom ritmo e uma boa mensagem. Ainda não ouvi o álbum, mas cheira-me que pode aparecer mais qualquer coisa por aqui. Afinal, é música nova na mesma.

Passaram três meses – #4

Passaram três meses desde que conheci este senhor, no NOS Alive. A parte estranha é que nem me apercebi de que já tinha passado tanto tempo. A verdade é que sou sempre mais feliz nos festivais. Mesmo com dores de costas, dores nas pernas e situações desconfortáveis.

Aposto que mais dois meses e já ando a salivar com os artistas confirmados para 2015. É sempre o mesmo ciclo vicioso, sempre fui uma criatura de hábitos.

Aleatório – #3

Ou nem tanto. Supostamente, há quem acredite no destino e coisas do género, a típica conversa de “tudo está relacionado”. Não faço ideia, cada um acredita naquilo que quer e vive com isso. Da melhor ou pior forma possível.

Encontrar isto foi relativamente aleatório, uma mera sucessão de cliques. Mas o Spotify acha que está relacionado: se ouvi The Weeknd, acha que JMSN é parecido. Para uma plataforma como o Spotify, percebo a necessidade de criar relações entre A e B. Nunca percebi bem é como é que as pessoas chegam a essas conclusões sobre se um artista é parecido com outro ou não. Não será isso ter um bocadinho a mania de que se é dono do mundo e de que se encontram semelhanças só porque se quer? Prefiro não comparar e irrita-me o discurso de “ah, esse gajo faz a mesma música do que o outro, nem vale a pena ouvir.”

Continuo a ser ingénua e a achar que, quem faz música a sério e por gosto, fá-lo para expressar a sua criatividade. Óbvio que existem inspirações, ninguém consegue inventar do zero, existe sempre um q.b de coisas que já se ouviu, é quase como uma mistura. Mas adoro ler aqueles comentários simpáticos no Youtube, que acusam sempre alguém de estar a ficar parecido com X ou Y. Para meras razões de divertimento e para comprovar a teoria, claro.

Voltando ao ponto: nunca tinha ouvido nada deste senhor. Descobri que se pronuncia Jameson, sempre facilita o trabalho. Alone é uma obra de arte, que compõe o álbum de estreia Priscilla, de 2012. Todas as faixas do álbum e os vídeos para ilustrar os singles foram produzidos pelo norte-americano.

Alone é só uma grande definição de um conflito interno, entre aquilo que se tenta ser e aquilo que se consegue ser. E ganha pontos por existir uma explicação do vídeo – dá sempre jeito, para aquelas pessoas que precisam de tudo bem explicadinho. A piada é que, às vezes, nem há grande explicação a dar: há coisas que são só aleatórias.

(Mas, sim, divirto-me muito quando alguém tenta desvendar as ideias dos videoclips recorrendo aos Illuminati. Rejubilo.)

O ovo podre – #2

Os Crystal Castles separaram-se hoje. Abri um ovo podre, enquanto tentava fazer o jantar, também hoje. Confesso que o segundo acontecimento me causou muito mais repulsa do que a separação da banda. Mesmo daquela repulsa com manifestações físicas, entenda-se.

Não conheço toda a discografia da banda, como dá para perceber. Se conhecesse, esta música não estaria aqui. Vi o anúncio da separação através de posts consternados, cheios de lamentações, no feed do Facebook. Tenho pena: embora não conheça o projecto na totalidade, até aprecio as poucas músicas que conheço. Hum… lembrei-me agora de que os podia ter visto no Alive e não vi. E agora nunca mais vou ver, pelos vistos.

Mas o que é que os Crystal Castles têm em comum com um ovo podre? Nada. Tirando o facto de que a Alice Glass, metade do duo electrónico, não quis ser o ovo podre da banda. Disse no Twitter que prefere sair de um projecto onde sente que já não é possível expressar toda a sua criatividade, de uma forma honesta.

Admiro-lhe a coragem. São poucas as pessoas que identificam que algo está mal e que tentam fazer alguma coisa para o mudar. O mais confortável é sempre desviar o olhar ou fingir que tudo está bem. Até ao dia em que as coisas apodrecem e já não há volta a dar.

(E, sim, eu não conhecia mesmo esta música.)

3005 – Ainda faltam 991 – #1

Também conhecido como dia número um do desafio. Childish Gambino consegue lembrar-me Fernando Pessoa – não por semelhanças físicas ou intelectuais, obviamente, mas porque ambos têm mil personnas. 

Ao início, não o via enquanto Childish Gambino e as únicas capacidades de rapper que conhecia eram enquanto Troy, da série Community. 

Claro que é impressionante alguém que consiga fazer rimar ‘bigode’ com ‘cerveja’, em espanhol, mas não é um bom cartão de visita. Acho eu.

Passados uns meses, descobri que Donald conseguia interpretar personagens que não têm um melhor amigo com dificuldades de integração. Aliás, que até conseguia entrar numa das séries com a maior quantidade de estranheza e ‘oi?’ que já vi – Girls. Para os mais distraídos, era um dos muitos namorados de Hannah.

Até ao dia em que descobri que existia Childish Gambino, com a música Freaks and Geeks. Dei-lhe crédito pelas dicas que ficam na cabeça e que soam sempre bem quando estamos a discutir com alguém. Isto é, se a discussão se desse em inglês. Portanto, já vamos em duas pessoas: Donald Glover, o actor, e Childish Gambino, o rapper. Só mesmo para confundir, ainda prefere assumir-se enquanto I Am Donald nas redes sociais.

Hoje, conheci a 3005, do álbum because the internet (bom nome,já agora). Uma declaração de amor dos tempos modernos, onde não há medo de prometer passar 900 anos ao lado de alguém e onde é totalmente normal ter uma casa cheia de hommies e sentir-se sozinho. O espanhol também marca presença – acho importante. E a verdade é que não há nada mais marcante da geração milénio do que o medo do futuro.

Um desafio para todos os dias

“Era mais rica se não gostasse tanto de música”. É esta a frase que grande parte dos meus amigos já ouviu quando chega a altura dos festivais de verão. Quero ir a todos, gosto de todos, dói-me o coração quando perco um concerto de uma banda de que gosto muito. Já a minha carteira, é mais insensível e não alinha nos devaneios.

Na teoria, era mais rica porque não gastava dinheiro em bilhetes para concertos, acho sempre que quem não gosta de música poupa. É mentira, gastam noutro lado, mas assim a teoria não teria nem metade da piada.

Oiço música todos os dias e ando há anos a tentar definir o estilo de que mais gosto. Acho que as pessoas que conseguem ter uma banda preferida são bastante melhor organizadas do que eu. Bem, tenho uma certeza, sei que não gosto de música instrumental, falta ali sempre alguma coisa. Mas descobri que sou aquilo a que se poderia chamar “sedentária musical”. Tenho playlists, oiço sempre a mesma coisa, durante dias e dias a fio. Descubro alguma coisa e exploro-a até ao fim – ou seja, até me fartar.

E a pergunta é: até que ponto é que isto é normal? No outro dia, li que quem vê as mesmas coisas todos os dias fica emocionalmente confortável, mas que não é desafiado. E o desafio é bom, dá gozo e é saudável, dá estaleca. Sim, tudo remete para a imagem da já explorada zona de conforto.

Sim, é da série 'Girls'. Também vejo séries, só que em quantidade industrial.

Sim, é da série ‘Girls’. Também vejo séries, só que em quantidade industrial.

Concluindo: preciso de algo que me desafie, mas que esteja de acordo com o tal sedentarismo. Portanto, a ideia aqui é ouvir uma música diferente, todos os dias. Para uns pode ser aquilo a que na gíria se chama peanuts, para mim é um Himalaias, mas ligeiramente mais controlado.